As Miúdas Giras adoram partilhar e admiram outras experiências de vida. Foi neste espírito de partilha que decidimos criar uma rubrica mensal de miúda/o gira/o convidada/o, tornando o nosso blogue mais rico e variado.
A nossa convidada deste mês é Maria Eduarda Sousa, co-autora do livro “Vida de Médico”.
A convite das miúdas giras, ao qual sou mãe de uma delas, aqui transcrevo uma das muitas histórias que publiquei. Esta está no livro Vida de Médico.
A sede apertava a garganta naquela tarde de Verão.
Resolveu visitar o filho e a nora. Prontos para a bem receber ofereceram-lhe como bebida fresca, um agradável sumo de maracujá, que lhe desceu pelo esófago tal qual uma criança no escorrega, mas como o à-vontade com a nora era pouco não repetiu a bebida.
Foi tal o desfrute agradável do sumo, que não se conteve e decide fazer também um delicioso suco com, nem mais nem menos, dezassete maracujás. Como não tinha pedido a receita, não tomou o cuidado de coar o líquido e num trago ávido e sôfrego bebeu o precioso fluido sem mastigar as sementes.
Instala-se uma forte dor de barriga e passados alguns dias a vulcânica dejecção surge pintalgada de pontos negros.
Que estranho! Que será que vejo? Pergunta para os seus botões a sequiosa, já um pouco liberta do seu mal abdominal. Vai buscar um utensílio tipo colher e recolhe as fezes para o bacio e com cuidado lava as pequenas sementes, que delicadamente guarda numa folha de papel higiénico.
A quem devo perguntar se estes resíduos são as sementes de maracujá? Rapidamente lhe surge à ideia – Só o meu médico de família me pode ajudar!
Para sorte do médico, este encontrava-se a gozar umas deliciosas férias, pelo que a sequiosa teve de consultar outro médico, que lhe garantiu serem sim as sementes de maracujá.
A dor ao defecar começou a manifestar-se com maior intensidade e de vez em quando lá surgia uma ou outra semente. Que fazer? Talvez fosse melhor consultar um especialista dos intestinos pois se as sementes furam o mesmo posso morrer. Tal foi pensado, tal foi levado a efeito e nessa mesma semana o Sr. Dr. dos intestinos já estava a observar não só a ampola rectal como também a folha de papel higiénico onde se encontravam religiosamente guardadas todas as sementes e pevides que recolhera das fezes.
O Sr. Dr. dos intestinos não encontrou justificação para a dor anal, pelo que a insatisfação e desânimo apoderaram-se da queixosa.
Os dias vão passando e o médico de família não regressa de férias. Só há uma solução – falar com a Sra. Enfermeira.
– Não se preocupe (diz a enfermeira) vai ver que com o tempo deixam de aparecer nas fezes e a dor passa…
-Mas Sra Enfermeira não pode tirar-me com os dedos o que eu sinto no ânus? Eu pago-lhe o que me pedir.
-Não, a única solução é a Sra. deixar de comer fruta. O melhor é comer só bananas.
-Mas a banana prende o intestino e depois fico com cólicas!
Não conseguindo cooperação da Enfermeira e como o marido já desesperava com as queixas, voltou a marcar consulta para o Sr. Dr. dos intestinos, o qual pede a presença do marido para que comprove que nada de anormal existe no ânus da esposa.
Regressa o desejado médico de família do seu período de férias e tem à porta do consultório a deprimida e angustiada utente.
Surge a prestável Sra Enfermeira referindo os incidentes ocorridos com a utente e a urgência que esta tinha em contar todo o seu desespero.
Entra de lágrimas nos olhos, pensa o médico serem lágrimas de dor, pelo que lhe pede para se ajoelhar na marquesa para observar o local doloroso, mas as lágrimas são de desgosto.
-Então está chorosa porquê?
-Tive uma grande mágoa ao ouvir as palavras que o meu marido me disse mal saímos do consultório do Sr. Dr. dos intestinos.
-E o que disse o seu marido? Inquiriu o médico de família.
Balbuciando ainda chorosa repete a frase que a levou a este estado de amargura:
-“Só me faltava esta…. Pagar oitenta euros para te ver o cú, quando o posso ver de borla em casa!”