Quem passa habitualmente no passeio da Aguda ou é assíduo frequentador do Curto, não ficou certamente indiferente ao que se passou na semana de 30 de Abril a 5 de Maio. À entrada da Associação, esperava-nos o Adamastor! Um monstro trazido pelo Ricardo, feito com lixo apanhado na praia e que simboliza a calamidade que é a quantidade de plástico que existe nas praias e nos oceanos.
Escolhi vê-lo, não como símbolo de uma tormenta mas, na minha interpretação, como símbolo de esperança… a esperança de que algo vai mudar, porque faz sentido e é a única forma de encararmos o futuro. Aprendermos sempre mais e passarmos à ação. Já vos tinha falado da recolha seletiva de lixo que, desde Janeiro e sempre que o tempo permite, é levada a cabo pelos sócios e amigos da Associação. Desta vez, foi ainda mais abrangente e com mais impacto!
No passado dia 30 de abril começou a primeira residência artística no Cultura Curto Espaço, chamada Operação Plástica – o convidado foi o artista plástico Ricardo Nicolau de Almeida que constrói obras de arte com lixo plástico recolhido da praia. Durante uma semana a Ni e o Rui, acompanhados por alguns sócios e pela Ana Milhazes (que nos vai brindando com as suas ações de sensibilização que nos ensinam como produzir menos lixo) levaram a cabo a sua habitual limpeza seletiva da praia para apanhar plástico. Desta vez com uma particularidade, o Ricardo foi convidado a permanecer na Aguda durante uma semana com a finalidade de, com o plástico apanhado na praia, produzir uma instalação artística no Cultura Curto Espaço.
No primeiro dia, com o plástico apanhado na praia, e com a ajuda de todos os que participaram nessa recolha seletiva, foi criada uma mandala, separando o plástico por forma a criar um degradé cromático. Durante os restantes dias da semana, o Ricardo foi utilizando esse plástico, e outro que entretanto iam apanhando, para criar a sua obra, colando os pedaços de plástico nas paredes do Curto. A composição que daí resultou representa uma paisagem. Foi traçada uma linha, como se fosse a linha do horizonte, em cima ficou o azul e o branco que parece representar o céu e por baixo o laranja e amarelo que representam o pôr do sol.
A intenção do Ricardo foi, através da sua obra criar em nós um sentimento de amor/ódio… uma obra bonita mas que ao mesmo tempo representa uma realidade horrível que é a poluição das praias e dos oceanos. Parabéns! O objetivo foi completamente conseguido.
Foi uma semana de aprendizagem, com projeção de vários vídeos sobre a temática do plástico, minutos de silêncio em homenagem aos animais que morrem devido à existência de plástico no mar, muito trabalho e ambiente de festa. No quarto dia houve uma exposição de desenhos do lixo. No sexto dia de atividades, antes da inauguração da obra do Ricardo, saiu à rua uma parada que representava o monstro plástico e que andou pela Aguda em mais uma ação de sensibilização.
Esta residência artística não passou despercebida e teve até presença da RTP .
Antes de terminar, partilho com vocês algumas curiosidades, números assustadores… e alguns princípios que todos nós podemos e devemos pôr em prática.
Todos os anos, 4,5 milhões de toneladas de plástico vão parar ao mar. Desde Janeiro até agora, com a recolha seletiva de lixo levada a cabo pelo Curto, percebemos que as beatas de cigarros são o item mais encontrado na praia e as cotonetes são o segundo. Palhinhas e paus de chupa aparecem igualmente em quantidades abismais!!
9000 cotonetes – 1000 palhinhas – 1200 paus de chupa
Com a Ana Milhazes aprendemos que melhor do que reciclar é mesmo aprender a fazer menos lixo. Com estas pequenas ações podemos todos ajudar:
- Devemos Recusar aquilo que não necessitamos
- Reduzir o que necessitamos
- Reutilizar aquilo que consumimos
- Reciclar aquilo que não conseguimos recusar, reduzir ou reutilizar.
- Se tiver de adquirir um produto novo, escolha vidro, metal ou cartão. Evite plástico
- Fazer compostagem
Parabéns por mais uma excelente iniciativa. Estejam atentas(os), haverá outras!
Até breve!
Texto Ariel
Fotos gentilmente cedidas pela Associação Cultura Curto Espaço